quarta-feira, 24 de novembro de 2010

As micorrizas são essenciais para a maioria das plantas

Quase todas as plantas vasculares necessitam de uma associação simbiótica com fungos. Sem auxílio, os pêlos radiculares dessas plantas não absorvem água ou minerais o suficiente para manter o crescimento. Entretanto, essas raízes geralmente são infectadas por fungos, formando uma associação chamada de micorriza. As micorrizas são de dois tipos, considerando o fato das hifas do fun­go penetrarem ou não as células da planta.

Nas ectomicorrizas, o fungo enrola-se à raiz e sua massa é ge­ralmente tão grande quanto a da própria raiz.

As hifas dos fungos enrolam-se individualmente às células da raiz, mas não as penetram. A extensa rede de hifas penetra o solo na área em torno da raiz, de tal modo que até 25 por cento do volume de solo próximo à raiz pode ser de hifas do fungo. As hifas presas à raiz aumentam a área superficial para a absorção de água e mi­nerais, e a massa de micorriza no solo, como uma esponja, retém água ao redor da raiz, eficientemente. As raízes infectadas caracte­risticamente ramificam-se muito, ficam inchadas e com forma de bastão, e os pêlos radiculares estão ausentes.

Nas micorrizas arbusculares, as hifas do fungo entram na raiz e penetram a parede celular das células radiculares, formando es­truturas arbusculares (semelhantes às árvores), dentro da parede celular, mas fora da membrana plasmática. Essas estruturas, como os haustórios dos fungos parasíticos, passam a ser o primeiro local de troca entre a planta e o fungo. Como na ectomicorriza, o fungo forma uma vasta rede de hifas, partindo da superfície da raiz, em direcção ao solo circundante.

As hifas fúngicas da microrriza arbuscular infectam a raiz internamente e penetram nas células radiculares, ramificando-se dentro das células e formam estruturas semelhantes a árvores. As hifas preenchem boa parte da célula mas não o núcleo.

A associação micorrízica é importante para ambos os parcei­ros. O fungo obtém da planta os compostos orgânicos necessários, tais como açúcares e aminoácidos. Em troca, o fungo, devido à sua altíssima razão área-volume e à sua capacidade de penetrar a fina estrutura do solo, aumenta consideravelmente a eficiência de ab­sorção de água e minerais (principalmente fósforo) pela planta. O fungo pode também fornecer algumas hormonas de crescimento e proteger a planta contra o ataque de microrganismos fitopatogênicos. As plantas que possuem micorrizas arbusculares activas apresentam coloração de verde mais escuro e podem resistir melhor a extremos de seca e temperatura do que as plantas da mesma espécie com micorrizas pouco desenvolvidas. Tentativas de introduzir algumas espécies de plantas em áreas novas falha­ram até que fosse fornecida uma porção de solo da área nativa (presumivelmente contendo o fungo necessário para estabelecer a micorriza).
Árvores sem ectomicorrizas não crescerão bem na ausência de água e nutrientes em abundância e, logo, a saúde de nossas florestas depende da presença de fungos ectomicorrízicos. A parceria entre planta e fungo resulta em uma planta mais bem adaptada à vida na terra. Já foi sugerido que a evolução das micorrizas tenha sido o evento isolado mais importante na colo­nização do ambiente terrestre pelos seres vivos. Fósseis de estru­turas micorrízicas de 460 milhões de anos já foram encontrados. Algumas hepáticas, um dos mais antigos grupos de plantas terres­tres, formam micorrizas.
Fonte : Vida - Ciência da Biologia. Artmed

Questão do Exame Nacional de Biologia e Geologia - 2ª Fase. 2010
Alguns fungos habitam na interface das raízes das plantas com o solo e, ao introduzirem-se nas células das raízes sem causar danos, desencadeiam uma associação simbiótica permanente com a planta, denominada micorriza. Explique em que medida as micorrizas contribuem para a prática de uma agricultura sustentável.

terça-feira, 23 de novembro de 2010

Engenhocas e restauro de velharias



Os entusiastas do tuning de automóveis pegam num carro desconjuntado ou banal e, com traba­lho de pintura, trabalho de chapa e incorporação de toda a espécie de acrescentos, são capazes de o transformar num carro novo e sem igual.

A Evo­lução funciona como estas engenhocas: pega numa forma de vida e desembaraça-se como pode para produzir uma forma de vida nova.
Aqui, a ideia-chave é - em suma - o desenrascanço, o improviso, o espírito de engenhocas, isto é, ir fazendo pequenas melhorias à medida das possi­bilidades. Quando a Evolução produz uma nova espécie, não parte do zero, usa os antepassados dessa nova espécie como matéria-prima.
Um adepto do tuning de automóveis pode fazer todo o tipo de modificações criativas e melhorias. Pode pintá-lo de novo e substituir algumas peças por outras melhores. Pode elevá-lo ou baixá-lo, fazê-lo descapotável, instalar-lhe vidros fumados ou espelhados, um aileron traseiro, enfim, o que lhe der na gana. É verdade que, em princípio, se pode adicionar partes novas feitas de raiz para o efeito, inventar novos adereços e até um carro novo. Mas não começa por desenhar um avião ou um submarino ou a planta de um edifício de escri­tórios - ele permanece fiel ao modelo básico que um século de indústria automóvel cristalizou.
Também assim é a Evolução. Sabemos que houve um tempo, há milhões de anos, em que as formas de vida eram muito simples, pelo que foi relativamente fácil conceber os mais radicais e bizarros modelos de seres vivos, tendo sido assim que os seres vivos se dividiram nos seus ramos principais (por exemplo, os Fungos, as Plantas, os Animais). Todavia, à medida que o tempo foi passando, cada ramo desta árvore da vida foi-se especializando e refinando e, com isso, as solu­ções de design prévias tornaram-se estruturais e, desse modo, menos maleáveis.
Pensem nas rodas dos carros.

Um adepto do tuning pode instalar pneus de jeep, pneus mais finos, jantes, raios, etc, mas o carro não deixará de ter quatro rodas. Isto sucede porque os enge­nheiros de automóveis decidiram há muito tempo manter-se fiéis a essa opção. Seria possível cons­truir veículos decentes só com três rodas, ou seis rodas, mas, nesse caso, o ideal seria construí-los de raiz e com um design apropriado. Alterar um carro normal para que passasse a ter apenas três rodas implicaria muito trabalho se se quisesse que o carro continuasse a funcionar. Seria preciso alterar muitos aspectos nesse carro, incluindo os mais estruturais. Como cada parte está dese­nhada para se encaixar nas outras, o carro teria de ser praticamente todo alterado (para onde iria o motor e como funcionaria o veio de transmis­são? Por princípio, o melhor seria construir de raiz o carro de três rodas.
A mesma lógica se aplica aos seres vivos. Pensa nas patas. Minhocas, estrelas-do-mar e cento­peias provam que se pode fazer um animal bas­tante normal com praticamente qualquer número de patas. Mas os peixes ancestrais dos anfíbios modernos, répteis, aves e mamíferos ficaram irre­mediavelmente comprometidos com o design qua­tro patas desde muito cedo, e logo naquele tempo longínquo em que os seus antepassados arrisca­vam as primeiras incursões em terra firme. Todos nós somos membros deste grupo de tetrápodes.
Como já perceberam, caranguejos, insectos e aranhas pertencem a outro grupo.

Tal como uma equipa determinada de entu­siastas do tuning poderia, se houvesse tempo e uma razão forte para o fazer, transformar um carro normal num carro de três rodas, também a natureza pode modificar de forma drástica o design quatro patas que os nossos antepassados adoptaram. Por exemplo, sabemos que partilha­mos um destes distantes antepassados com as cobras e também com as baleias. Quanto às aves, aos morcegos e ao homem, as patas dianteiras foram de tal forma alteradas que lhes chamamos "asas" e "braços", embora todos tenham quatro membros.
A regra mantém-se, porém: o que foi experimentado e testado tende a manter-se em uso.
A Evolução limita-se a ser um engenhocas que introduz variações.
As novas espécies tendem a ser versões modificadas, e não propostas radical­mente inovadoras.
Sabias que, ao longo da Evo­lução dos cavalos, a selecção natural fez com que de cinco dedos passassem a ter apenas um e com que se tornassem maiores, mais rápidos e mais fortes? Ora, nem por isso os cavalos que conhecemos hoje deixaram de ter quatro patas, tal como os seus antepassados.
Talvez já tenhas dado conta deste trabalho de um engenhocas - pequenas e médias alterações a um design básico comum - quando observas esqueletos de grandes animais em museus ou em livros. Uns são maiores do que outros, cada um tem a sua dentição e uma forma próprias, mas tendem a parecer-se uns com os outros: a cabeça à frente, a cauda atrás, quatro patas, crânio com órbitas oculares e mandíbula inferior, uma coluna vertebral de aspecto flexível, costelas para prote­ger os órgãos, etc.
São semelhantes porque são aparentados!
Fonte do Texto : Evolução - Daniel Loxton - Fundação Calouste Gulbenkian.

Evolução dos Flamingos segundo Lamarck e segundo Darwin

É interessante verificar que tanto Lamarck como Darwin, têm em comum o facto de valorizarem quer o papel do meio, quer a adapta­ção, todavia, apresentam explicações muito diferentes para a origem das espécies.

Tendo o Lamarckismo como princípios fundamentais a lei do uso e do desuso e a herança dos caracteres adquiridos, a morfo­logia actual do flamingo pode explicar-se do seguinte modo:

O flamingo, alimentando-se na borda da água, quando escas­seia o alimento tem de recorrer, para a sua alimentação, a águas mais profundas. O esticar permanente das patas, para chegar ao alimento, criou a necessidade de aumentar o tama­nho dos músculos e dos ossos destes órgãos. Em cada geração foram surgindo indivíduos que tinham as patas cada vez mais longas, características estas que foram transmitindo aos seus descendentes, chegando, assim, à forma actual.
O ambiente cria necessidades que levam ao aparecimento de estruturas morfológicas indispensáveis a uma melhor adaptação. Esta é uma resposta do ser vivo à acção do meio.

No Darwinismo, o princípio da selecção natural permite expli­car também a morfologia do flamingo da seguinte forma.

Independentemente do meio, existiam nas populações de fla­mingos variações naturais que passam de geração em geração. Assim, havia variações no tamanho das patas. Como num ambiente em que escasseia o alimento os flamingos que pos­suíam estes membros mais desenvolvidos tinham acesso mais fácil ao alimento, estavam mais bem adaptados, isto é, sobre­viviam melhor e reproduziam-se mais. Deste modo, aumenta­ram o seu número na população relativamente ao número de flamingos de patas curtas. A selecção natural favoreceu os fla­mingos mais bem adaptados a um ambiente onde o alimento estava em zonas mais profundas.
Por esta razão, os flamingos de membros mais compridos foram-se tornando mais abundantes em relação aos de membros mais curtos, que acabaram por desaparecer.