terça-feira, 4 de janeiro de 2011

A perda catastrófica da parede celular

A perda da parede celular externa foi significativa por ter permitido uma nova forma de alimentação e também por outras modificações que acarretou. Hoje podemos juntar as peças da sua história.
As bactérias normais possuem um parede celular rígida.
Existe um outro grupo de procariotas, as chamadas arqueobactérias, que em vez da parede celular possuem uma membrana celular também muito rígida.
Habitam ambientes esotéricos, como sulfataras quentes e ácidas, locais estritamente anaeróbicos e assim por diante, e possuem uma série de sistemas metabólicos invulgares.
Em 1977, Carl Woese descobriu que as sequências dos genes das arqueobactérias são muito diferentes das das bactérias comuns. Foram chamadas arqueobactérias por vive­rem em ambientes extremos, semelhantes àqueles em que se pensa que a vida terá começado.

De início, muitos investigadores pensaram que as arqueo­bactérias eram de facto os seres vivos mais antigos, os des­cendentes directos das primeiras células vivas. Os estudos mais recentes mostram, porém, que as arqueobactérias des­cendem das bactérias comuns  (chamadas eubactérias). Mesmo antes de se saber isto, já o biólogo britânico Tom Cavalier-Smith havia posto a hipótese de tanto as arqueo­bactérias como os eucariotas serem descendentes de eubac­térias que sofreram uma perda catastrófica da parede celular.
Porque terá isto acontecido?
Não podemos defender que um grupo de bactérias perdeu a parede celular para que mais tarde pudesse evoluir o processo de fagocitose; tal raciocínio implicaria que a evolução tivesse capacidade de previsão. Uma possibilidade, embora especulativa, é que uma bactéria, num esforço competitivo, tenha desen­volvido um antibiótico que bloqueava a síntese da parede celular de outra bactéria: esta é, de facto, a forma como actuam alguns antibióticos modernos para matar bactérias (a penicilina, por exemplo). Seja como for, tudo sugere que foi a perda da parede celular que despoletou tudo o que veio a seguir.
As bactérias sem parede celular são extremamente frá­geis, como mostram muitas experiências de laboratório. Esta perda poderá ter ocorrido várias vezes ao longo da evolução. O resultado mais comum terá sido que as linhagens afectadas tenham sido extintas, a não ser que descobrissem um antí­doto para a toxina. Mas duas linhagens, aparentadas entre si, encontraram soluções inovadoras para o desastre: uma de­senvolveu uma membrana celular rígida recorrendo a novos constituintes membranares e deu origem às arqueobactérias-a outra, o nosso antepassado, desenvolveu um esqueleto molecular interno, o citoesqueleto.

Fonte do Texto : A Origem da Vida. Gradiva